As coisas, as pessoas que vemos, olhamos, quase sempre ficam fora da gente. Leitora amiga, você já encheu seu coração de outro coração a ponto de doer. Quero dizer, você já teve lágrimas nos olhos, por lágrimas que não são “suas”, por algo que não é “seu”, que ocorreu “fora” de você. E por isso ficou triste. Não é tão ruim ficar triste às vezes.
Rubem Alves disse que a tristeza é para ser ensinada para fazer melhor ao coração. A tristeza é necessária para compor a nossa música própria. Uma coisa que pode bem marcar nossa humanidade, essa coisa de ser pessoa, é sentir a tristeza do outro, o coração do outro, o seu sentir. A falta disso perturba o olhar. Vemos um pouco apagado e temos muitos sentimentos atormentados.
Olho algo que está, à primeira vista, fora de mim. De repente, o que eu vejo, o que estava fora, vem para dentro de mim.
Um senhor me diz que estar com a neta é a melhor coisa da vida dele e, com os olhos cheios d’água, completa que não pôde fazer isso com sua filha. As lágrimas dele não têm nada comigo, mas meus olhos as veem, sou movido por algo irracional, recolho as lágrimas e imprevistamente aparecem nos meus olhos também.
Ponho o outro dentro de mim. Não é algo que requer consciência e vontade.
O apóstolo Paulo escreveu que posso dar tudo o que tenho aos pobres, mas, se me faltar o amor, nada serei, porque posso dar com as mãos sem que o coração sinta. Ah!, leitor atento, a beleza enche os olhos d’água.
Nas mesmas Escrituras Sagradas em que Paulo escreveu, tem essa oração: “com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”. Não sei o que quer dizer, mas aquele senhor me ajudou a entender melhor.
*Emanuel Filartiga é promotor de Justiça em Mato Grosso
Fonte: Ministério Público MT – MT