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Eloir Luiz Maurina – Uma história de dor, superação e resiliência

O pioneiro que assistiu e ajudou na emancipação de Santa Carmem

 

 

 

 

A história da migração dos sulistas em terras mato-grossenses, teve início em meados do século 20, mas esse movimento de colonização ganhou espaço, foi nos anos 70, com a chegada de gaúchos e paranaenses, que trouxeram consigo, não só transformações culturais e sociais, mas grandes mudanças econômicas, impulsionados pela pecuária, pela terra fértil e pelas grandes áreas para desmatamento e madeireiras.

E foi o que trouxe a família Maurina para o mato Grosso. Diante das intensas publicidades de solos férteis, condições favoráveis para adquirir os primeiros lotes rurais e uma forte campanha valorizando o sonho da posse de terra, fizeram os Irmãos Eloir, Leonir, Eudacir, José Carlos, Maria de Fatima, Leci Salete, Gerson, Gerci, e Elson juntamente com seus pais Ezelda Celestina Maurina e Benjamin Maurina, atravessarem mais de dois mil quilômetros rumo ao centro-oeste, para também viverem o sonho da propriedade rural.

 

Em terras mato-grossense

 

 

O empresário Eloir Luiz Maurina, de 63 anos, chegou no Mato Grosso em 1978, aos 17 anos de idade.  Eloir chegou juntamente com sua família em 1978. Ele conta que quando chegaram, se depararam com uma vila com poucas ruas de chão e umas 40 casinhas.

Era tudo estrada de chão. E logo que chegamos enfrentamos uma crise de enchente e ficamos isolados”, lembra Nêne, apelido carinhosamente dado pelos irmãos.

Eloir lembra que, foram anos difíceis. Lembra que uma simples viagem de Santa Carmem a Sinop demorava quase um dia. As condições da estrada ainda eram muito precárias. Os produtos e alimentos chegavam com dificuldades, muitas vezes de avião, até que chegou o primeiro “bodegão”, de onde trocavam cargas de madeira por alimentos.

 

Como não tínhamos condições de ir sempre para Sinop, para comprar mantimentos, minha mãe começou a criar galinhas, para suprir pelo menos o básico de nossa alimentação. E quando dava as enchentes, era a nossa única refeição. Lembro que ficamos uns cinco meses comendo frango, mandioca e arroz socado no pilão”, lembra Eloir, daqueles momentos difíceis, mas que o deram força para superar as dificuldades.

Para muitos, o sonho das próprias terras, transformou-se em realidade, como também para os Maurina, que em 1979 adquiriram seu primeiro “pedaço” de terra e montaram uma madeireira, a Serraria Pica Pau.

“Comprávamos o mato e a terra era bem mais barata, porque nessa época, o colonizador Enio Pepino, facilitava para os migrantes, para o povoamento do local”, recorda o empresário.

 

Fundadores das primeiras comunidades, ainda distrito de Sinop, acompanharam todo o crescimento do povoado. Das primeiras escolas, a primeira igreja e as primeiras moradas construídos com o sistema da união e mutirão, pois as mãos de obra, eram as suas próprias. O povoamento foi se desenvolvendo, o comercio aumentado e a força política acompanhou o desenvolvimento do lugar.

A serraria manteve o sustento das famílias por longos anos, e aos poucos a lavoura foi tomando conta da fonte de renda.  A madeira deu espaço para o arroz, que sob o desmatamento deitaram as primeiras sementes. Com acesso a nenhuma tecnologia de plantio, foi um começo difícil.

Trabalhamos com a serraria até meados de 1995, quando iniciamos o cultivo da lavoura. Porém foi muito difícil, porque não tínhamos acesso a calcário, agrônomos, ou qualquer outro tipo de tecnologia”, conta Eloir.

Mas o processo do progresso, não mais demoraria muito. E em 1981, os Maurina, presenciam um grande momento para a história do povoado. No dia 02 de dezembro, quando Santa Carmem é elevado à categoria de distrito.

 

A dor da perda

 

Em 1982 Eloir conhece Claudia, uma pinhalense de Santa Catarina, que chegou em Santa Carmem logo dois anos após seu futuro esposo. Mulher forte e independente, que além de trabalhar como caixa em uma instituição financeira na época, vendia enxoval e também era vendedora ambulante de joias em ouro.

 

 

E em 1986 se casam. Claudia então, deixa o banco para seguir ao lado do seu esposo na lavoura, catando raízes e cuidando da fazenda. Tiveram 3 filhas, a primeira Karlessandra Karlene e Katielen, a caçula. Uma história construída com muita humildade, respeito e amor. Mas a vida, às vezes nos desafia com muitas surpresas, ora boas, ora ruins, e para algumas delas, nunca estaremos preparados.

Em 2004, a família sofreu uma grande reviravolta na vida. Um diagnóstico médico, os fizeram acreditar que sua primeira filha, a Karlessandra, aos 16 anos de idade, havia contraído uma grave contaminação da Leptospirose. Uma zoonose letal, causada pela bactéria leptospira patogênica. A infecção ocorre pelo contato com a urina de animais infectados ou com água e lama contaminadas pela bactéria. A sua primogênita veio a óbito no mesmo ano.

E por 10 anos, Eloir, Claudia, Karlene e Katielen, guardaram seu luto como sendo essa, a causa daquela enfermidade. No entanto, em 2014, Katielen a filha mais nova do casal, com apenas 15 anos de idade na época, começa a apresentar os mesmos sintomas da sua falecida irmã, a Karlessandra, e levada de emergência ao médico, desta vez, recebe o diagnóstico da Doença de Wilson. Uma síndrome rara de caráter genético, que acaba influenciando o cobre no organismo, o que gera uma inflamação que ocasiona a cirrose desencadeado pela doença e, mesmo tão jovem seria necessário o transplante de fígado.

 

 

Levada às pressas para São Paulo, somente onde haveria médico para tamanha complexidade, Katielen entrou para lista de transplante, mas pela gravidade da situação, foi encaminhada para o topo da lista. Nessa mesma madrugada, ela conseguiu um órgão compatível, e foi realizado o transplante, porém teve complicações e precisou passar por uma nova cirurgia.  Passados alguns dias, Katielen já estava andando, mas ainda sentia dores abdominais, daquelas que os médicos julgavam ser por conta dos drenos, entretanto as dores eram oriundas de uma torção intestinal o que levou a uma sepse, que ela não resistiu e veio à morte uma semana depois.

 

 

E os desafios que pareciam tão grandes, tão enormes, agora se faziam a família se sentirem tão pequenos diante de tanta tristeza. “Ela era tão vaidosa. E pensar que um diagnóstico correto da Karlessandra, poderia salvar a vida da Katielen agora, ou um simples exame também, poderia ter detectado essa tão síndrome rara”, lembra Eloir, muito emocionado.

A katielen e a Karlessandra, foram a terceira ou quarta vítima dessa doença diagnosticada no Brasil. A doença é hereditária, ou seja, passa de pais para filhos. É uma enfermidade genética rara, causada pela incapacidade do organismo de fazer a metabolização do cobre. Dessa forma, o metal se acumula no cérebro, rins, fígado e nos olhos, o que causa um grave quadro de intoxicação no paciente e pode ser diagnosticada pela urina de 24 horas e pelo sangue.

 

A SUPERAÇÃO

 

Em 10 anos após a trágica morte das irmãs, Eloir, Claudia e Karlene e seu esposo  Paulo, precisaram reaprender a viver. Com foco no trabalho, a família se reencontraram e recuperaram novas motivações para reconstruir.

“Fiquei esses 10 anos sem sair, e pensava comigo, que eu tinha que fazer mais alguma coisa por elas. Uma noite, pensei numa tatuagem, então decidi eterniza-las comigo. E, as boas lembranças, das minhas meninas, tenho todos os dias, um sentimento que além de guardados no coração, também carrego elas nos meus braços”, expressa o pai, novamente muito emocionado, mostrando o retrato das filhas, uma em cada braço.

 

 

 

Após o falecimento da irmã mais nova Karlene teve sua primeira filha no ano de 2015, Maria Luiza que trouxe luz para os dias escuros, no ano de 2018 veio a segunda Ana Carolina então como Sucessora da família Karlene  com cargo de tesoureira em uma instituição de crédito, opta em sair para ter mais tempo com a sua família. “Depois que perdemos a katinha, pedi demissão de onde eu trabalhava e comecei a trabalhar com meu pai, no escritório da fazenda administrando. Para agregar renda a família Karlene, começou a fabricar brincos e vender de ambulante, “porta em porta” e deu certo”, lembra Karlene. No ano de 2022 nasce o menino Gabriel Luiz, que veio para completar ainda mais a família.

Eloir e Claudia resolveram aproveitar muito mais a vida, com viagens, passeios e netos. Retornaram para a igreja e Karlene voltou a catequizar. “Gosto tanto do dia a dia da vida de missionária, que não imaginei o quanto isso estava me fazendo falta. O mistério da fé é feito quando ele te põe em prova pois é muito fácil quando você tem uma casa, comida, roupa e todo o resto, mas sem saúde não dá. A fé só é provada quando você passa por provações. Optamos por viver do jeito que conseguimos. E hoje, vivemos, moramos, saímos sempre que podemos todos juntos”, completa Karlene.

 

NEGÓCIOS DA FAMÍLIA

 

Paralelo aos negócios do pai, a lavoura de soja e milho, Karlene continuou a fabricação dos brincos. Então começou a comprar e revender semi joias para complementar o salário que ganhava como Administrativo da fazenda. Mas de um simples hobby, ela não imaginava que a atividade daria tão certo. O pequeno negócio de porta em porta, deu lugar a loja mais frequentada de Santa Carmem.

 

 

E em 2022 inaugurava da Bella Mallu. Atualmente, a loja oferece para população de Santa Carmem , semi-joias, pratas importadas,  moda infantil e infanto juvenil, trabalha com as marcas Upbaby, Grupo Texpa, Nike etc, a loja conta com duas vendedoras. E quando a empresária fala em “vivemos, moramos e saímos sempre que podemos, juntos”, ela quer dizer isso literalmente, afinal, a Bella Mallu, o escritório da fazenda e sua residência, ficam uma ao lado da outra.

 

 

“Hoje a loja possui um mix com grande variedade de produtos, acessórios e roupas de 0 a 16 anos. Deu super certo, um case de sucesso, muito difícil a cliente entrar e sair sem nada”, completa.

 

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